Artigos

Fábulas e Contos Infantis


Aproveite o mês do Folclore e leia a sugestão da Psicóloga e Colaboradora Catarina sobre a importância de trabalhar as fábulas e os contos infantis.
Era uma vez um dragão que soltava fogo pelo nariz .....Quem não se lembra quando criança dos contos de carochinha e das histórias de Chapeuzinho Vermelho e dos três porquinhos? Apesar do mundo infantil, atualmente, ser sinônimo de um mundo virtual, os pais e a escola devem introduzir na rotina das crianças a leitura de fábulas e histórias infantis.
A leitura de contos tem uma importância múltipla para as crianças. Primeiro, pelo valor pedagógico, pois é um momento rico para alfabetização, representando o primeiro contato das crianças com a leitura e a escrita, favorecendo o desenvolvimento do pensamento abstrato delas.  E segundo, pelo psiquismo, pois os contos se aproveitam dos conflitos entre fadas e bruxas, entre gigantes e heróis, para diferenciar o bem e o mal, ou seja, os contos de fada contribuem para a formação do caráter da criança.
Essas histórias tratam de experiências do cotidiano e expressam a condição humana frente a vida.   Por isso, além de contribuir para o desenvolvimento da leitura e escrita, os contos de fadas têm grande importância para a formação do caráter da criança. Possibilitam ao leitor extrair do livro sua própria moral da história e incorporar os ensinamentos em suas atitudes. Portanto, leiam para as crianças e estimulem –os a lerem. 

Catarina Andrea S Teixeira Azevedo
Psicóloga clínica e neuropsicóloga
Tel: 2673-0009




A Humanização Social e a Aprendizagem


O homem nasce com habilidades para a aprendizagem. Porém, o aprender só se processa através da interação com o meio. Dessa forma, (VIGOTSKY apud MOLL,1999), o homem não pode ser estudado somente pelo seu aspecto biológico, pois ele constrói, transforma, constituindo-se do produto de sua própria história.

O que difere o ser humano dos animais é esse processo de aprender e transformar o mundo.

Um exemplo dessa diferenciação é quanto aos nossos antepassados que andavam utilizando as mãos e posteriormente aprenderam a caminhar com o corpo ereto, transmitindo essas características às demais gerações.

Podemos verificar atualmente a evolução da criança do nascimento até aproximadamente a um ano de idade, sua aprendizagem é muito rápida em relação aos antepassados. Essa comparação basta-nos até numa observação das crianças nascidas hoje, das crianças nascidas há 20 ou 30 anos atrás. A Humanidade levou milhares de anos para chegar aos conhecimentos e a evolução de hoje, enquanto as crianças aprendem em no máximo três anos toda essa evolução. Muitas vezes, chegando a ultrapassar nossa própria evolução, por não termos disponibilidade para tanta inovação.

É importante ressaltar a interferência cada vez mais vivaz da interação do meio com o indivíduo. Vale citar o caso das irmãs Mala e Kabala (indianas) que foram criadas com lobos e agiam como lobos, seus aspectos biológicos não apresentavam problemas, porém aprenderam conforme os estímulos que receberam. Embora fossem da espécie humana, eram “desumanizadas” pois não obtiveram aspectos e características essenciais para o desenvolvimento humano pleno (MENDONÇA, 2004)

A humanização decorre por meio da aprendizagem e das relações sociais com o mundo cultural, o que diferenciará um ser humano do ser animal.

A criança na idade de zero a dois anos desenvolve biologicamente: o andar, as mãos, a fala, o pensamento, a memória e a atenção concentrada conforme os estímulos propiciados pelos meios. Após essa fase a criança inicia seu processo de amadurecimento social e psicológico articulando com o meio o que já aprendeu, passando a ter atividade humana, desenvolvendo a linguagem e o símbolo conhecido interage com o meio. Essa interação e associação que faz é conforme as experiências que possui e formam seu conceito de linguagem.

Figura 1 – Aquisição da linguagem
Fonte: MENDONÇA, 2004.
A criança começa a expressar seus pensamentos que é uma função mental interativa, dinâmica que permite a relação entre suas experiências, se expressando no raciocínio.
Segundo LURIA apud MOLL (1999, p. 87) “O homem difere dos animais a medida em que pode fazer e usar instrumentos. (Estes instrumentos) não apenas muda radicalmente suas condições de existência, mas até mesmo reagem sobre o homem enquanto efetivam uma mudança nele e em sua condição física”.

Dessa forma, a humanização do indivíduo dependerá dos estímulos recebidos pelo meio, quanto mais favoráveis, melhor será para seu desenvolvimento global.

Uma outra característica relacionada ao processo de humanização do indivíduo engloba aspectos morais, sociais e éticos, conceitos por vezes esquecidos em nossa sociedade por profissionais, seja pela própria individualidade, vida agitada, stress, falta de recursos e/ou descontentamento perante suas responsabilidades.

Nesse caso o profissional não possui um olhar observador ao indivíduo com dificuldades que pertence a um contexto social com características e experiências próprias.

Conforme WALLON apud MOHONEY (2000) o indivíduo pertence a uma tríade, ou seja, deve ser observado perante seus aspectos cognitivos, físicos e afetivos inseridos num contexto social.


Figura 3 – Tríade Walloniana
O motor, o afetivo, o cognitivo, a pessoa, embora cada um desses aspectos tenha identidade estrutural e funcional diferenciada, estão tão integrados que cada um é parte constitutiva dos outros. Sua separação se faz necessária apenas para a descrição do processo. Uma das conseqüências dessa interpretação é de que qualquer atividade humana sempre interfere em todos eles. Qualquer atividade motora tem ressonâncias afetivas e cognitivas; toda disposição afetiva tem ressonâncias motoras e cognitivas; toda operação mental tem ressonâncias afetivas e motoras. E todas essas ressonâncias têm um impacto no quarto conjunto: a pessoa (MOHONEY, 2000, p. 15).






Sob esses aspectos o processo de humanização é contínuo e faz parte de nossa sociedade atual, a evolução e transformação do homem sempre ocorrerão concomitantemente com a evolução e transformação do Mundo, um agindo sobre o outro conforme suas necessidades.
A conscientização da importância da humanização visa o momento em que o indivíduo será visto como um ser global. Quebrando antigos conceitos e rótulos utilizados pelos diversos profissionais a indivíduos que apresentam alguma dificuldade, tratando-o como um ser em constante desenvolvimento e não como uma máquina a ser consertada.

Referência:
MENDONÇA, F.W. Neuropsicologia. Suzano: Faculdade Padre João Bagozzi, 2004. Anotações de aula do Curso de Especialização em Psicopedagogia.
MOHONEY, A.A. Introdução. In: Henri Wallon – Psicologia e educação. São Paulo: Loyola,2000.
MOLL, L.C. Vigotsky e a educação. Porto Alegre/RS: Artmed, 1999.



A Atenção e a Aprendizagem

A Aprendizagem é um processo que inicia com o nascimento do bebê, suas primeiras aprendizagens são decorrentes de fatores biológicos como: a respiração, o choro, a fome, o frio. E desse momento em diante, a interação com o meio e o sujeito cuidador favorecerá esse processo.
Sabe-se que o ato motor está diretamente ligado com o desenvolvimento mental (cognitivo), assim, conforme Fonseca (1988) ...”cada aquisição influencia na anterior, tanto no domínio mental como no motor, através da experiência e troca com o meio.”
Nesse processo do aprender, a atenção é um pré-requisito, por meio o é possível memorizar determinada informação, ou seja, adquirir o conhecimento.
O desenvolvimento da atenção é dividido em dois momentos conhecidos como: atenção involuntária e voluntária.
A atenção involuntária é uma característica marcante nos primeiros anos de idade e guia-nos por toda a vida.
É reconhecida facilmente quando se está realizando alguma atividade e ouve-se um barulho forte de uma batida de carro, automaticamente, a pessoa se dispersa, voltando-se para tal barulho; ou ainda, ao ouvir um forte estrondo de trovão. Assim, qualquer coisa que desperte a atenção não consciente, e sim por reflexos ou instinto é considerado uma atenção involuntária.
A atenção voluntária ocorre por interesse do sujeito em determinado assunto, sendo dividida em: atenção seletiva, atenção alternada, atenção dividida.
A atenção alternada refere-se à capacidade de substituir um estimulo por outro, uma pessoa está concentrada lendo um texto e atende ao telefone, nesse momento, muda seu foco atencional, substituindo o estímulo da leitura para ter atenção à conversa telefônica.
Na atenção dividida, é possível fazer várias atividades ao mesmo tempo, por exemplo, assistir a televisão e fazer o jantar. Férnandez (2001) reconhece a atenção dividida como flutuante, estando cada vez mais presente na geração moderna, observa-a com freqüência entre os adolescentes, que estudam e ouvem música ao mesmo tempo.
Em nossa atualidade, o homem sofre uma grande variedade de estímulos, observe e ouça nesse momento de leitura, a quantidade de informações e de situações que estão ocorrendo ( por exemplo, o barulho de um carro, de um avião, crianças brincando, um rádio ligado, um cachorro latindo, o barulho de algo que caiu no chão, e assim por seguinte). Diante desses aspectos, a atenção seletiva é a capacidade que o sujeito tem de selecionar um estímulo ou um objeto específico e concentrar -se nele, focando a atenção para algo de interesse, sem se preocupar com o barulho ao redor. A atenção seletiva, conforme Luria (1979) possui outros subitens relacionados, Sendo: o volume da atenção, ou seja, a escolha de um estímulo para se focar dentre a variedade disponível, como exemplificado. A estabilidade ou também conhecida como atenção sustentada, determina o tempo em que o sujeito fica focado em determinado estímulo.
Ainda, conforme Luria (1979), a atenção pode ser oscilante, pois não é possível nem mesmo ao adulto manter sua atenção focada por todo o tempo, biologicamente, a atenção sofre oscilações, portanto, considera-se que a atenção voluntária diferentemente da involuntária é uma atenção inata ao sujeito, ou seja, pode e exige treinamento.
Assim, é possível se ter a atenção seletiva dispersada por um momento, porém a consciência da importância da atividade a qual está se realizando, faz com que se volte a concentração em seguida. Esse aspecto é um dos desafios à sala de aula, pois nem sempre os conteúdos são suficientemente significantes aos alunos para a realização do treino de retorno da atenção, além de nem sempre terem a maturidade para tal ação.
Tanto quanto a memória, o despertar da atenção envolve também o sistema límbico (a quarta unidade funcional descrita por Luria), na qual a motivação, o ânimo, o interesse, o afeto e o sentimento, assim como os fatores fisiológicos e o stress podem interferir em seu desenvolvimento.
Têm-se como fatores fisiológicos, possíveis alterações nas funções responsáveis pela a atenção, como ainda um amadurecimento a ocorrer conforme a idade cronológica e as experiências vividas pela criança.
O desenvolvimento da atenção voluntária é um processo de aprendizagem que ocorre até aproximadamente os 12 anos de idade. Sendo importante a criança durante seu desenvolvimento, receber orientações para treinar e desenvolver sua atenção seletiva, através da nomeação e ordenação das ações, como por exemplo: “Pegue devagar a caneca, segure a alça e beba com calma.” (Luria, 1979). Com o decorrer de sua maturação a instrução verbal orientará sua atenção até se tornar reguladora.
A atenção associada aos processos de controle torna capaz a retenção de informações relevantes, as quais são fixadas na memória de longa duração.
Atualmente, é grande o número de queixas que chegam a Clínica Psicopedagógica em relação à dificuldade de atenção, mas como mencionado, diversos são os fatores que determinam e interferem nesse processo, não é possível relaciona-la sempre a um fator fisiológico, embora há a importância de um diagnóstico diferencial, com outros especialistas envolvidos. Porém a sociedade atual encontra-se deficiente de atenção e memória por circunstâncias advindas da modernidade, da correria do cotidiano, da pressa e ansiedade gerada pelos adultos e perpassada para as crianças seja em casa e/ou na escola, e, por vezes, pela falta de tempo ou paciência em falar ou agir com a criança dentro de seu ritmo de maturidade, ensinando-a dentro de seu perfil. Esse tipo de situação cotidiana gera ansiedade e por vezes interfere na atenção.
Conforme Fernandez (2001), a palavra atenção vem do verbo atender e atender é cuidar. Assim, a atenção está vinculada a um aspecto sócio-afetivo de vínculo com o outro, sendo construída a partir do modelo do adulto.
Portanto, é imprescindível e cuidadoso o diagnóstico para saber se a falta de atenção é um sintoma fisiológico, ou apenas, um sintoma que a criança ou adolescente apresenta de um quadro circunstancial, advindos de fatores emocionais inconscientes. Uma vez que, a distração não é oriunda apenas de estímulos externos, mas envolvem também os distratores internos do sujeito.

Edilene Dal’Olio
Educadora Especializada em Psicopedagogia Clínica e Intitucional.
Especializanda em Neuropedagogia & Psicanálise
                                                             Tels. 2725-6643/8475-4434

Referências:
Fernandez, Alicia. A sociedade hipercinética e desatenta medica o que produz. Porto Alegre, Artes Médicas, 2001.
Luria, Alexander. Curso de Psicologia Geral. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira, 1979 ( 4 vols.)
FONSECA, Vitor da. Da filogênese à ontogênese da motricidade. Porto Alegre: Artes Médicas, 1988. 309 pp.



Neuropedagogia?!

As primeiras observações do cérebro foram realizadas pelos gregos, quando o reconheceram como o centro das sensações humanas. Durante muitos séculos esse tão vital órgão foi observado e estudado anatomicamente.
Por volta do Século XIX foi à hipótese de Gall sobre a localização cerebral e os estudos de Broca e Wernicke, sobre as funções mais elaboradas do cérebro que nos fizeram chegar ao Século XX com conhecimentos que permitiram estabelecer uma conexão entre esse órgão e a aprendizagem, sendo hoje a base da Neuropsicologia.
Porém, para compreender o complexo humano, nenhuma Ciência basta por si só, surgindo a tão essencial e importante interdisciplinariedade com as Neurociências, ou Neurociências Cognitivas.
As Neurociências Cognitivas abordam temas relacionados à normalidade e alterações na: memória, atenção, linguagem, emoção, motivação, consciência, plasticidade cerebral, cognição entre outros.
Assim, atualmente diante dessa unificação das Ciências com disciplinas como a Física, a Fisiologia, a Matemática, entre outras, a Educação e a Psicopedagogia aproximaram-se desses estudos, trazendo-nos um novo campo de pesquisa e atuação frente às dificuldades de aprendizagem: a Neuropedagogia.
Como o objeto de estudo da Psicopedagagogia é a aprendizagem humana, é fundamental a compreensão da estrutura e funcionalidade cerebral.
A Neuropedagogia, confirma a importância do papel do professor no processo de ensino/aprendizagem. Os estudos da área, sobre a memória e o sistema límbico (hipófise, amígdala e hipotálamo), apontam à motivação como um dos fatores essenciais no aprender, uma vez que para isso é necessário armazenar os conhecimentos e as experiências na memória. E essas são formadas inicialmente no hipocampo por meio de experiências com carga emocional.
Naturalmente que não é suficiente o professor apresentar uma aula motivadora a seu aluno para que ele aprenda, existem outros processos e estratégias de ensino que aliadas favorecem o contexto, como a apresentação de conteúdos significativos, a relevância dos conhecimentos prévios desse aprendiz, a participação da vivência nas atividades e a oportunidade de rever os conceitos ensinados de maneiras diferenciadas.
Ainda temos muito a caminhar no processo educacional. A Educação Formal precisa ser revista e sair do mecanicismo, conforme Fonseca (2007)¹ é preciso “ensinar o indivíduo a aprender a aprender, a aprender a pensar, a aprender a estudar, a aprender a se comunicar, e não apenas reproduzir e memorizar informações, mas, sim, desenvolver competências de resolução de problemas”. Seguindo no mesmo pensamento, Taricano (2009)² ressalta a importância do ensino da lógica e do conhecimento de técnicas apropriadas de acordo com o funcionamento cerebral para tornar a aprendizagem mais eficaz.


Bibliografia
¹ Fonseca, V. Cognição, neuropsicologia e aprendizagem.2 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
² Taricano, I. Neuropedagogia e Fundamentos da Aprendizagem. São Paulo: Instituto Saber, 2009 – Anotações da aula do Curso de Especialização em Neuropedagogia e Psicanálise.


Para saber mais:
Fiori, N. As Neurociências Cognitivas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
Moraes, A. P O livro do Cérebro, 1, 2 e 3. São Paulo: Duetto, 2009 – ISBN 978-85-7902-041-4
Rotta, Newra Tllecha. Transtornos da Aprendizagem. Artmed, 2006.

Na Internet:
www.abpp.com.br/revista

Edilene Dal’Olio é educadora especializada em Psicopedagogia Clínica e Institucional. Atuou durante 10 anos como professora no Ensino Fundamental I. Atualmente especializanda em Neuropedagogia e Psicanálise pelo Instituto Aprender.